2. história ainda sem título

– então estás a dizer-me que do meu irmão não há notícias...??!!!! e o lui??? a torina?????
– até agora nada!.
com estas palavras o semblante de xado ficou carregado como se soubesse algo mais que não me queria dizer naquele momento. eu sentia por dentro o nó que se formava, não queria ouvir. mesmo que fosse verdade não queria ouvir. até receber algum tipo de confirmação, a ideia de voltar a encontrar todos vivos e bem, era maior do que tragédia em si. os nomes continuavam a ecoar pelo estádio em tom de esperança, o burburinho era constante e a manta de pessoas que cobria o relvado e a pista de atletismo, fazia um padrão em constante mutação.
peguei no braço de xado e dirigimo-nos a uma tenda onde parecia ser possível tomar uma bebida quente. quando chegámos mais perto da enorme fila de mantas ambulantes que esperavam a sua vez, uma cabeleira loira lá ao longe desperta a minha atenção. era a elsa, a elsa raposo, mesmo ao longe aqueles lábios não enganavam.
– elsaaa!!! gritei com tanto entusiasmo que várias pessoas olharam com ar reprovador, talvez porque o ambiente era pesado demais para aquela alegria que me invadiu.
– pecooo!!! tás cá pá. onde tá o lui??... peco oh pá, que sorte tar viva pá, que sorte...!!!
as palavras eram cortadas por soluços de choro. tentei dar-lhe um abraço mas os implantes de silicone eram tão grandes que dificultaram o gesto. a mão direita e o braço estavam com ligaduras. sentei-me ao seu lado e pus o braço por cima do seu ombro tentando acalmá-la.
podia ver xado na fila que entretanto também tinha encontrado alguém que abraçava.
por entre alguns soluços elsa prossegue:
– naquele dia eu e o fonseca...
– fonseca???? então e o songalo???
– oh pá, não me digas nada pá, esse gajo é um bruto!!!
– o quê? não me digas que essa mão ...????
– não, não!! não foi ele pá! isto foi uma operação recente para tirar o nome dele que eu tinha tatuado, lembras-te??- disse ela por entre aqueles grossos lábios que eu nunca percebia se tinham expressão de riso, de choro ou outra coisa qualquer.
– então? tu e o songalo... tanta coisa... ele era tatuagens, ele era casamento... então???
_ oh pá, pois é pá... foi uma fase má, tipo eu não sei onde é que estava ca cabeça. áliás, eu continuo sem saber onde é que tou ca cabeça, ou o qué que tenho dentro dela.
o assunto era sério. dava para perceber, não pela expressão mas, sim pelo tom de voz que se tornou grave e baixo. celsa continuou:
– mas naquele dia, eu e o fonseca saímos de manhã cedo para uma viagem a fátima. ia uma vez mais com a pessoa que amo, abençoar a nossa relação... oh pá, sabes como eu sou. até já sou conhecida lá no santuário pá, já todos os padres me cumprimentam e são supé'simpáticos comigo... giríssimo não é? isto deve ser do jeito que eu tenho para relações púbicas, adiante... mas o que é que eu tava a dizer mesmo...????
celsa parecia baralhada. aproveitei o deslize e deslizei para perto de xado que entretanto estava sózinho. celsa continuou no chão sentada a olhar o céu e a largar palavras para o ar que se perdiam no barulho dos nomes que saíam do megafone.
*nota do autor (qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência)

Comentários

fi disse…
Não tens mais nada que fazer, ou queres editar um livro........
Duarte Évora disse…
vai por mim isto ainda vai vender mais do que o Código D´Avinci

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