meias rotas, ...Passam os dias seguidos de uma chuva fina, sentada a coser as meias de quilometros de venda, não compro mais, só porque se calhar estas chegam até parar, não é que não ande mais mas posso deitar-me e não querer mais, já não se vende como se vendia, agora não gostam de flores nem pássaros, os bordados que tanto trabalho deram agora desdenham e não compram, para quê comprar mais meias se o único uso da agulha é coselas, sei que sou velha e os meus trapos vão ficando mas aquelas cousas novas não têm sentimento, como uma arvore que se planta e se colhe o fruto com prazer agora estragam a fruta mais bonita que não sabe a nada, por isso, posso deitar-me e não apetecer levantar, fecho os olhos e bordo as minhas flores que voam com os pássaros que as levam, amanhã se não chuver levo esta saca e digo que não vendo as cousas de dentro, que não tem preço, que já não preciso de comer nem de usar meias novas, porque trago comigo o que chega para saber de mim...